Atenção, empreendedora: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
- Carol Camini
- 18 de dez. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de jan. de 2019
Começamos a trilhar juntas (juntos, se houver aqui algum leitor) um caminho de descoberta do real sentido do trabalho e de como nós cristãos devemos olhar para essa atividade: com o intuito de santificá-la, santificar-nos nela e santificar aos demais por meio dela.
Percorremos o conceito de dignidade e honestidade, assumindo que um cristão, em hipótese alguma, deve trair os valores do Evangelho, nem mesmo quando isso puder lhe custar o próprio emprego. Chegamos, enfim, a uma alternativa para essa situação e outras como desemprego e complementação da renda familiar.
Lembram-se que lhes fiz uma pergunta? Eu havia perguntado se em algum momento da vida tinham pensado em empreender. Se você não tem vontade de empreender, tudo bem! Mas digo que o empreendedorismo pode ser a chance que você terá de ficar em casa com seus filhos, de ter mais tempo para seu esposo, para suas práticas espirituais e tantas outras tarefas da intimidade do lar que ficam um tanto abandonadas devido à sua dupla jornada. Saiba que o empreendedorismo vai muito além desse formato de "casos de sucesso" que lemos nos blogs e revistas, e que ele está muito mais relacionado com o auto-conhecimento que com as "técnicas para ser um grande empreendedor".
Se você respondeu de maneira afirmativa e quer empreender, precisará, em primeiro lugar, saber das grandes responsabilidades que decorrem da sua decisão. E a primeira delas é a mais importante: conhecer os seus deveres como empreendedora!
Entretanto, ainda antes disso, se você já é esposa e/ou mãe, precisa ter bem claro dentro de si que seu primeiro lugar de missão é a família. Por isso nada deverá comprometê-la! Nada! Nem mesmo esse empreendimento que pode ser o seu sonho ou uma fonte de complementação da renda familiar. Seu esposo, seus filhos e seu lar em primeiro lugar aqui nessa terra. Isso significar desistir de empreender? Talvez, sim. Mas para a grande maioria das mulheres, não, isso significa apenas disciplina, planejamento e ordenação das tarefas prioritárias. Fique tranquila, pois trarei aqui diversos artigos que terão intuito de ajudá-la a adquirir as virtudes e habilidades citadas acima.
Retornemos, então, para os deveres dos empreendedores e, portanto, de vocês, mães que desejam empreender no lar. Alguns deles convergem para os deveres dos patrões em relação aos empregados. Outros são próprios da categoria do empreendedor e você precisa conhecer todos eles, ainda que comece trabalhando sozinha.
A Igreja nos ensina, através de sua Doutrina Social, que os patrões, pessoas constituídas em autoridade, possuem direitos e deveres em relação aos seus subordinados. Como hoje vivemos em uma sociedade que sabe gritar muito por " direitos", tratemos, pois, dos deveres de um patrão e vejamos o que nos fala a Igreja de Cristo por meio do Papa Leão XIII:
" Quanto [...] aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objeto de vergonha, faz honra ao homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. O cristianismo, além disso, prescreve que se tenham em consideração os interesses espirituais do operário e o bem da sua alma. Aos patrões compete velar para que a isto seja dada plena satisfação, que o operário, não seja entregue à sedução e às solicitações corruptoras, que nada venha enfraquecer o espírito de família, nem os hábitos de economia. Proíbe também aos patrões que imponham aos seus subordinados um trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com a sua idade ou o seu sexo.
Mas entre os deveres principais do patrão, é necessário colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém. Certamente, para fixar a justa medida do salário, há numerosos pontos de vista a considerar. Duma maneira geral, recordem-se o rico e o patrão de que explorar a pobreza e a miséria, e especular com a indigência, são coisas igualmente reprovadas pelas leis divinas e humanas; que cometeria um crime de clamar vingança ao céu quem defraudasse a qualquer pessoa no preço dos seus labores: "Eis que o salário, que tendes extorquido por fraude aos vossos operários, clama contra vós; e o seu clamor subiu até os ouvidos dos Deus dos Exércitos" (Tg 5, 4). Enfim os ricos devem precaver-se religiosamente de todo o ato violento, toda a fraude, toda a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a economia do pobre...¹".
Temos, portanto, como deveres de um patrão: 1. tratar o empregado como alguém constituído em dignidade, diante dos homens e de Deus; 2. estimar ao empregado como a um irmão e não apenas como mera mão-de-obra; 3. zelar pela salvação da alma e pelos bens espirituais do empregado; 4. não incentivar ou aliciar o empregado a atos ilícitos e corruptores; 5. não impor aos empregados trabalhos superiores à sua força, idade ou sexo; 6. pagar aos empregados um salário justo; 7. em hipótese alguma, explorar a pobreza e indigência do empregado.
Para quem escolheu o empreendedorismo, como é o caso das senhoras que aqui me acompanham, além dos deveres citados acima, existem outros próprios da categoria do empreendedor: 1. oferecer um serviço/produto de qualidade; 2. cumprir os prazos prometidos para entrega do produto ou realização do serviço; 3. assumir a responsabilidade pelas falhas que possam ocorrer no processo de entrega ou realização do serviço prestado; 4. ajudar o seu cliente a solucionar o problema que ele já possui e não criar outros problemas afim de que ele te pague mais por serviços que ele não solicitou.
Nós, empreendedoras católicas/cristãs, PRECISAMOS conhecer e praticar todos esses deveres, pois seremos responsáveis pelos sonhos, desejos, soluções de problemas de outras pessoas. Seres humanos, de carne e osso que muitas vezes colocam em nós as suas esperanças e alegrias. Essa é uma responsabilidade imensa, bem como o é ter pessoas subordinadas a nós, pessoas que dependem do nosso negócio para levar o alimento para as mesas de seus lares e conceder mais dignidade às suas famílias. Não podemos ser como os superiores mundanos: irresponsáveis, ditadores, desumanos, preocupados apenas com as metas a serem batidas e que ignoram que ali existem pessoas que, por vezes, saem de seu ambiente de trabalho massacradas, enxergando-se como lixo pela maneira como são tratadas.
Renunciamos a esse tipo de conduta! E se colocarmos em prática aquilo que a Doutrina Social da Igreja nos ensina, seremos excelentes empreendedoras, pois a medida do sucesso está na justiça, no amor e na retidão que ao menos tentamos colocar em nossas obras.
Que Nosso Senhor nos auxilie nessa brava missão!
Salve Maria Imaculada!
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Fontes:
¹ Encíclica Rerum Novarum. Papa Leão XIII. http://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html.

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